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sábado, 5 de junho de 2010

DEGUSTAÇÃO DE VINHO EM MINAS GERAIS.


Mais uma do Veríssimo, que relata uma conversa entre um enólogo famoso e laureado e um matuto do interior das Minas Gerais:
"- Hummm...
- Eca!!!
- Quem falou Eca?
- Fui eu, sô! O sinhô num acha que esse vin tá cum gostim istranh?
- Que é isso?! Ele lembra frutas secas adamascadas, com leve toque de trufas brancas, revelando um retrogosto persistente, mas sutil, que enevoa as papilas de lembranças tropicais atávicas...
- Taquipariu sô! E o sinhô cheirou iss tudaí no copo?!
- Claro! Sou um enólogo laureado. E o senhor?
- Cebesta, eu não! Sôisso não sinhô!! Mai quissaqui tá me cheirano iguarzinho à minha egüinha Gertrudes dipois da chuva, lá isso tá!
- Ai, que heresia! Valei-me São Mouton Rothschild!
- O sinhô me descurpe, masseu vi o sinhô sacudino o copo e enfiano o narigão lá dentro. O sinhô tá gripadim, é?
- Não, meu amigo, são técnicas internacionais de degustação entende? Caso queira, posso ser seu mestre na arte da enologia. O senhor aprenderá como segurar a garrafa, sacar a rolha, escolher a taça, deitar o vinho e, então...
- E intão moiá o biscoito, né? Tô fora, seu frutinha adamascada!
- O querido não entendeu. O que eu quero é introduzi-lo no...
- Mais num vai introduzi mais é nunca! Disafasta, coisa ruim!
- Calma! O senhor precisa conhecer nosso grupo de degustação. Hoje, por exemplo, vamos apreciar uns franceses jovens...
- Hã-hã... Eu sabia que tinha francêis nessistória lazarenta...
- O senhor poderia começar com um Beaujolais!
- Num beijo lê, nem beijo lá! Eu sô é home, safardana!
- Então, que tal um mais encorpado?
- Óia lá, ocê tá brincano com fogo...
- Ou, então, um suave fresco!
- Seu moço, tome tento, que a minha mão já tá coçano de vontade de meter um tapa na sua cara desavergonhada!
- Já sei: iniciemos com um brut, curto e duro. O senhor vai gostar!
- Num vô não, fio dum cão! Mas num vô, memo! Num é questão de tamanho e firmeza, não, seu fióte de brabuleta. Meu negócio é outro, qui inté rima com brabuleta...
- Então, vejamos, que tal um aveludado e escorregadio?
- Iquitar a mão no pé dovido, hein, seu fióte de Berzebú?
- Pra que esse nervosismo todo? Já sei, o senhor prefere um duro e macio, acertei?
- Eu é qui vô acertá um tapão nas suas venta, cão sarnento! Engulidô de rôia!
- Mole e redondo, com bouquet forte?
- Agora, ocê pulô o corguim! E é um... e é dois... e é treis! Num corre, não, fiodaputa! Vorta aqui quieu te arrebento, sua bicha fedorenta!"

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