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segunda-feira, 11 de outubro de 2010

TÔ FICANDO VELHO!

Amigos,

Não canso, e jamais cansarei, de dividir aqui, com vocês, textos maravilhosos do, para mim, melhor escritor brasileiro da atualidade: Luis Fernando Veríssimo.

"Tô ficando velho!

Um dia desses, às 2 da manhã, peguei o carro e fui buscar minha filha adolescente, na saída do show do Charlie Brown Jr.

Ela e as amigas estavam eufóricas e eu ali, meio dormindo, meio de pijama, tentei entrar na conversa.
“E aí, o show foi legal?”
A resposta veio de uma mais exaltada do banco de trás: “Cara! Tipo assim, foda!”
E outra emendou: “Tipo foda mesmo!”

Fiquei, tipo assim, calado o resto do percurso, cumprindo minha função de motorista.
Tô precisando conversar um pouco mais com minha filha, senão, daqui a pouco, vamos precisar de tradução simultânea.

Pra piorar ainda mais, inventaram o Messenger, essa praga da Internet, onde elas ficam horas e horas escrevendo abobrinhas umas pras outras, em código secreto que não leva a absolutamente NADA. Tipo assim:
“Kct! Vc tmb nunka tah trank, kra. Eh d+, sl. T+ Bjoks. Jubys.”
Em português:
“Cacete! Você também nunca está tranqüila cara. É demais, sei lá. Até mais. Beijocas. Jubys.”

Jubys, que deve ser pronunciado “Diúbis”, é isso mesmo que você está imaginando, a assinatura.
Só que o nome de batismo é Júlia, um nome bonito, cujo significado é “cheia de juventude”, que eu e minha mulher escolhemos, sentados na varanda, olhando a lua...

Pois, Jubys, é hoje, essa personagem de cabelos cor de abóbora, cheia de furos na orelha, um monte de arames na cara mais parecendo um bicho, sem falar nas malditas pragas das tatuagens que tanto marginalizam os jovens.

Tô ficando velho!!!

A cultura cinematográfica dos jovens de hoje varia entre a “obra” de Brad Pitt e a de Leonardo Di Caprio.
Há anos tento convencê-las a ver “Cantando na Chuva”, mas, sempre fica para depois.

Um dia, cheguei entusiasmado em casa, com a fita de um filme francês que marcou minha infância: “A Guerra dos Botões”. Juntei toda a família para a exibição solene e a coisa não durou nem 5 minutos!
O guri foi jogar bola, Jubys inventou “um trabalho de história sobre a civilização greco-romana que tem que entregar, tipo assim, até amanhã, senão perde ponto”.
E até minha mulher, de quem eu esperava um mínimo de solidariedade, se lembrou que tinha um compromisso com hora marcada e se mandou.
Fiquei ali, assistindo sozinho e lembrando do tempo em que eu trocava gibi na porta do Capitólio.

Uma amiga me contou que o filho de 10 anos ficou espantado, quando viu um telefone de discar.
Sabe, telefone de discar? É, tipo assim, um aparelho sem teclas, geralmente preto, com um disco no meio, todo furado, onde cada furo corresponde a um algarismo.
Você enfia o dedo indicador no buraco correspondente ao número que precisa registrar, gira o negócio até uma meia lua de metal e solta a roleta, que, lá por dentro, está presa a uma mola e faz ela voltar à sua posição inicial.
Esse aparelho serve para conversar com outra pessoa, , como qualquer telefone comum, desde que esteja, é claro, conectado na parede.

Eu sou do tempo que vidro de carro fechava com maçaneta.
E o Fusca tinha estribo e quebra vento.

Há pouco tempo, João, meu filho de 8 anos, pegou um LP e ficou fascinado! Botei pra tocar e mostrei a agulha rodando, dentro do sulco de vinil.
Expliquei que aquele atrito gerava o som que estávamos escutando...
Mas aí, ele já estava jogando o Pokemón Stadium, no Game Boy.
Não é que ele seja desinteressado... eu é que fiquei patinando nos detalhes.
Ele até que é bastante curioso e adora ouvir as “histórias do tempo em que eu era criança”.

Quando contei que a TV, naquela época, era toda em preto e branco, ele “viajou” na idéia de que o mundo todo era em preto e branco e só de uns tempos para cá as coisas começaram a ganhar cores.
Acho que, de certa forma, ele tem razão. “Tipo assim”...

A dúvida que me corrói é: “cara”, será que nosso país tem futuro com jovens
“Tipo assim...”
“Tipo FODA?”"


Luis Fernando Veríssimo

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