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quinta-feira, 4 de novembro de 2010

PORQUE SOU GREMISTA.


Aos amigos tricolores, um pouco de história e curiosidade a respeito do nosso Imortal, com reprodução de matéria assinada pelo grande Lupicínio Rodrigues e publicada no jornal Última Hora em 1963:

Porque sou gremista

Última Hora / Roteiro de um BoêmioLupicínio Rodrigues06/04/1963

Domingo, estive em um churrasco, da Sociedade Satélite Prontidão, onde se reúne a "Gema" dos mulatos de Pôrto Alegre. Lá houve tudo de bom, bom churrasco, boa música e boa palestra. Mas, como sempre, nestas festas nunca falta uma discussão quando a cerveja sobe, lá também houve uma, e, esta foi a seguinte.

Uma turma de amigos quis saber porque, sendo eu um homem do povo e de origem humilde, era um torcedor tão fanático do Grêmio.

Por sorte, lá estava também o senhor Orlando Ferreira da Silva, velho funcionário da Biblioteca Pública, que me ajudou a explicar, o que meu pai já havia me contado.

Em 1907, uma turma de mulatinhos, que naquela época já sonhava com a evolução das pessoas de côr, resolveu formar um time de futebol. Entre estes mulatinhos estava o senhor Júlio Silveira, pai do nosso querido Antoninho Onofre da Silveira, o senhor Francisco Rodrigues, meu querido pai, o senhor Otacílio Conceição, pai do nosso amigo Marceli Conceição, o senhor Orlando Ferreira da Silva, o senhor José Gomes e outros. O time foi formado. Deram-lhe o nome de "RIO-GRANDENSE" e ficou sob a presidência do saudoso Julio Silveira. Foram grandes os trabalhos para escolher as côres, o fardamento, fazer estatutos e tudo que fôsse necessário para um Clube se legalizar, pois os mulatinhos sonhavam em participar da Liga, que era, naquele tempo, formada pelo Fuss-Ball, que é o Grêmio de hoje, o Ruy Barbosa, o Internacional e outros.

Êste sonho durou anos, mas no dia em que o "RIO-GRANDENSE" pediu inscrição na Liga, não foi aceito porque justamente o Internacional, que havia sido criado pelo "Zé Povo", votou contra, e o "RIO-GRANDENSE" não foi aceito.

Isso magoou profundamente os mulatinhos, que resolveram torcer contra o Internacional e, sendo o Grêmio seu maior rival, foi escolhido para tal.

Fundou-se, por isso, uma nova Liga, que mais tarde foi chamada de "Canela Preta", e quando êstes moços casaram, procuraram desviar os seus filhos do clube que hoje é chamado o "CLUBE DO POVO", apesar de não ser êle o primeiro a modificar seus estatutos, para aceitar pessoas de côr, pois esta iniciativa coube ao "ESPORTE CLUBE AMERICANO", e vou explicar como:

A Liga dos "Canelas Pretas" durou muitos anos, até quando o "ESPORTE CLUBE RUY BARBOSA", precisando de dinheiro, desafiou os pretinhos para uma partida amistosa, que foi vencida pelos desafiados, ou seja os pretinhos. O segundo adversário dos moços de côr foi o Grêmio, que jogou com o título de "Escrete Branco". Isso despertou a atenção dos outros clubes que viram nos "Canelas Pretas" um grande celeiro de jogadores e trataram de mudar seus estatutos, para aceitarem os mesmos em suas fileiras, conseguindo levar assim, os melhores jogadores, e a Liga teve que terminar. O Grêmio foi o último time a aceitar a raça porque em seus estatutos, constava uma cláusula que dizia que êle perderia seu campo, doado por uns alemães, caso aceitasse pessoas de côr em seus quadros. Felizmente, essa cláusula já foi abolida, e hoje tenho a honra de ser sócio honorário do Grêmio e ter composto seu hino que publico ao pé desta coluna.

Hino do Grêmio, de Lupicínio Rodrigues

Até a pé nós iremos
Para o que der e vier
Mas o certo é que nós estaremos
Com o Grêmio onde o Grêmio estiver

Cinquënta anos de glória
Tens imortal tricolor
Os feitos da tua história
Enche o Rio Grande de Amor

Nós como bons torcedores
Sem hesitarmos sequer
Aplaudiremos o Grêmio
Aonde o Grêmio estiver

Para honrar nossa bandeira
Para o Grêmio ser campeão
Poremos nossa chuteira
Acima do coração

E até sábado...

Clique e confira reprodução do jornal Última Hora de 06/04/1963 com a matéria acima:


Saudações tricolores!

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